só reconheci suas cores belas quando eu te vi
sentimentos resgatados pela memória em podcast, série e livro
comecei a ouvir o podcast do Nando Reis, Lugar de Sonho. logo no início, quando começou a tocar, tive que parar de ouvir. estava sensível e quando percebi, não parava chorar. e era só meio-dia de um dia útil.
Nando abre o primeiro episódio lembrando da infância e da casa cheia de música. ele está com a equipe em um dos cômodos do lugar onde a família viveu e isso faz com que resgate uma imensidão de sentimentos.
o primeiro deles é a memória do pai. um homem que ele viu chorar duas vezes na vida. ao falar isso, Nando se emociona e se surpreende pelas memórias ainda o fazerem chorar.
em seguida, conta sobre a família e o lugar onde cresceu. o que todo aquele convívio representou na vida dele e vemos que além do pai, mãe e irmãos constroem um elo que impacta na obra do artista.
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na semana passada terminei de ver A Vida Pela Frente, série da Globoplay, produzida e dirigida por Leandra Leal. os personagens são adolescentes no fim do Ensino Médio. só que em 1999, exatamente o mesmo ano que eu me formei no colégio.
tudo na série despertou uma memória afetiva profunda. inclusive a relação da protagonista com a mãe e a morte de uma das personagens. isso não é spoiler.
Liz (Nina Tomsic), a protagonista, é uma menina que vem de escola pública para estudar numa particular. tudo isso pra passar no vestibular de direito em uma universidade pública. no meio do caminho, ela faz amizades importantes que a ajudam a encontrar o caminho na adolescência.
em uma das cenas, Liz presenteia a melhor amiga, Beta (Flora Camolese) com uma edição de Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres, da Clarice Lispector. mais um ponto da memória acendeu, porque ler Clarice foi um desafio extremamente feliz que encarei aos 15 anos.
confio muito que as aulas de literatura do colégio me revelaram um caminho sem volta e tudo que eu faço desde então partiu do que li naquela época.
“Se não há coragem, que não se entre. Que se espere o resto da escuridão diante do silêncio, só os pés molhados pela espuma de algo que se espraia de dentro de nós. Que se espere. Um insolúvel pelo outro. Um ao lado do outro, duas coisas que não veem na escuridão. Que se espere. Não o fim do silêncio mas o auxílio bendito de um terceiro elemento: a luz da aurora”, Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres, da Clarice Lispector.
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na última quinta-feira, conheci a escritora Ieda Magri. estamos gravando uma série de episódios do podcast Posfácio com pessoas que escrevem de Santa Catarina ou nasceram aqui. esse trabalho tem permitido a mim e à minha amiga, diretora de conteúdo, roteirista, produtora, apresentadora and repórter Stefani Ceolla conhecermos pessoas incríveis.
uma delas foi Ieda Magri, que entrevistamos no corredor da Academia Catarinense de Letras no dia que ela seria premiada pelo livro Um Crime Bárbaro.
tem uma coisa que sempre me intrigou na obra dela, desde Uma Exposição. como é escrever sobre a própria família? incluir momentos felizes e ásperos numa obra, deixar feridas se mostrarem ao público?
“Então, o coração. Ajuda ou atrapalha? É essa a questão de Elizabeth Costello diante dos animais no matadouro. O que o coração pode fazer? Dito de outro modo: O que a poesia pode fazer quando a filosofia falha? ‘Se uma escritora é apenas um ser humano com um coração, o que existe de especial no meu caso?’, Ieda Magri citando Elizabeth Costello, livro de J.M. Coetzee
não vou escrever a resposta. se quiserem saber, sigam o Posfácio e saibam em breve (sim, este é um publipost).
a única coisa que posso dizer é que não foi fácil.
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Playlist do dia:
Se ainda tiverem tempo, recomendo um texto que escrevi há alguns anos sobre o quintal da minha casa em Mafra. faz tempo que não atualizo o blog e provavelmente só conseguirei escrever aqui ou no Posfácio, mas me orgulho demais do que publiquei lá.
Essa news nunca será cobrada, mas se você quiser contribuir com o Posfácio podcast, clica aqui. ajude a gente a fazer jornalismo independente em Santa Catarina.
beijos e até a próxima